Uma foto para lá da verdade A fotografia mais famosa de guerra, o instante em que Federico Borrell, um miliciano republicano cai depois de atingido por uma bala franquista, está agora de novo em crise de autenticidade. Há anos que se discute se a fotografia da autoria do famoso fotojornalista Robert Capa é ou não encenada. Agora um documentário, " A Sombra do Iceberg ", premiado com o prémio Melhor documentário ibero-americano, no México, vem outra vez questionar a autenticidade da cena ocorrida em Cerro Muriano, povoação dos arredores de Córdoba, e feita em 1936, no dia 5 de Setembro. As dúvidas levantadas prendem-se com factos investigados. Hugo Doménech, professor da Universidade Jaume de Castellón e do jornalista Raul Riebenbaueur reuniram um especialista forense, um militar geodésico e um astrofísico e recolheram depoimentos locais. No filme prevalece a ideia de que o miliciano não foi morto às nove mas à uma da tarde, que há um relato local que diz Borrel ter sido morto atrás de uma árvore, que não existe na foto, e que o miliciano fotografado não é o que foi morto naquele dia. O facto de Capa viajar então com a namorada Gerda Taro (morta pouco depois) e de enviar para Paris os rolos todos misturados sem a designação a quem pertencia cada um, ainda lança mais confusão na história. Por outro lado o negativo original nunca mais apareceu, nem a tira com as fotos tiradas antes e depois. Apesar de se conhecer uma sequência de fotos feitas no mesmo local. O biógrafo de Capa, Richard Whelan - falecido há pouco - recusou depor para o documentário e Cornell Capa, o irmão de Robert, já de idade avançada, nada comenta, remetendo tudo para a sua filha, a fiel depositária do espólio de Robert Capa. A fotografia foi publicada pela primeira vez, em 1936, na revista VU - pioneira do fotojornalismo moderno e inspiradora de LIFE - e dois anos mais tarde (como andava devagar então a informação!) na LIFE. Na edição da VU Robert Capa era apresentado como o melhor fotógrafo de guerra do Mundo e a paginação da reportagem era feito num estilo então vanguardista de fotohistória. Esta polémica acaba por ser um pouco redundante. Capa era de uma coragem à prova de bala a trabalhar no cenário de guerra. Fotografou por dentro a Guerra Civil espanhola, sempre pelo lado republicano, estava no Dia D na Normandia e acabou por morrer ao pisar uma mina na Indochina a 25 de Maio de 1954. Como curiosidade passou por Portugal e foi visto no Café Palladium dos Restauradores pelo jornalista de O Século, Francisco Mata, já falecido, e que o contou numa crónica do antigo Sete. [...] Luiz Carvalho, fotojornalista do Expresso