THANKSGIVING COM MINE DE RIEN Na noite de Acção de Graças apresento-vos um blogue escrito dos EUA, da cidade onde eu várias vezes passei este feriado. Evidentemente, é mais um blogue de um LEFTista (embora neste caso não vá insistir muito no aspecto LEFT porque o rapaz nem é muito disso...). O autor, para além de um velho amigo - conheço-o desde caloiro -, é uma pessoa interessantíssima, e tem com certeza uma perspectiva muito sua a acrescentar ao assunto para mim fascinante das relações entre a Europa e a América, o Velho e o Novo Continente. Antes de eu ir para os EUA falava-me entusiasmadíssimo do american way of life e de como era boa a comida nas universidades americanas - a escolha de pizzas! os hot-dogs! os hamburgers! - sem se aperceber de como me estava a deixar horrorizado. Depois da LEFT o Pedro veio para Paris fazer Teoria de Cordas. Na Cité Universitaire arranjou maneira de não ficar muito tempo na Residência André de Gouveia, indo antes para uma casa que era a cara dele - a Deutsche de la Meurthe, a mais antiga, a mais clássica, aquela onde Simone de Beauvoir ia visitar o estudante Jean-Paul Sartre. Quando eu cheguei, deu-me a conhecer a área de Montparnasse e do Port Royal. Nessa altura era um parisiense com uma costela americana, português q.b. e vagamente judeu. Agora é um americano parisiense, um verdadeiro mangeur de fromage. Pôs a Europa e a Teoria das Cordas de parte e foi para a melhor cidade da América do Norte mostrar que um físico matemático é pau para toda a obra - nem que seja para mostrar que a Biologia Celular é só "quebra de simetria" e que não há nada como o outono na Nova Inglaterra. Que rica prenda de Thanksgiving. Bem vindo, Pedro. EFEMÉRIDE A 24 de Novembro de 1960, no restaurante Le Vrai Gascon (n.º 82 da rue du Bac, Paris), em torno dessas figuras majestáticas que eram Raymond Queneau e François Le Lionnais, nasceu uma das mais heterodoxas correntes literárias do século XX. Desafio intelectual e brincadeira de literatos apaixonados pela sua língua, explosiva mistura de cérebros moldados pelas leis da gramática e mentes científicas habituadas a todo o tipo de operações lógicas, o OuLiPo (Ouvroir de Littérature Potentiel) veio libertar a literatura da forma mais radical: acorrentando-a. Isto é, inventando um sem número de constrangimentos que estimulam a imaginação e a perícia verbal de quem escreve. Na definição sucinta de Queneau, um autor oulipiano é um «rato que constrói o labirinto do qual se propõe sair». Um labirinto de palavras, claro; um labirinto textual. E se grande parte da produção destes autores auto-espartilhados não sobrevive fora do contexto em que surgiu, enquanto mecanismo lúdico ou exercício de estilo, o certo é que os processos do OuLiPo estão inscritos na estrutura de algumas obras-primas de autores como Italo Calvino (Se Numa Noite de Inverno um Viajante) ou Georges Perec (A Vida Modo de Usar ; La Disparition ; etc). Quanto mais não fosse por isso, já valeria a pena celebrar os 45 anos de um movimento que continua activo e em expansão (investigar aqui).