Preço do barril de crude chegou ao nível histórico de 100 dólares 03.01.2008 - 08h46 Por Lurdes Ferreira Às 17h30 de ontem em Lisboa, a vaga especulativa do mercado do petróleo convergiu com as previsões dos últimos meses que davam como certa a chegada do preço do crude aos 100 dólares. As projecções tornaram-se realidade, ao fim de um ano em que o preço desta matéria subiu 58 por cento e que foi também o maior aumento anual da última década. O recorde histórico verificou-se na bolsa mercantil de Nova Iorque, com a transacção do crude de tipo leve, de referência para o mercado dos EUA, com entrega para Fevereiro, a pular mais de três dólares numa só sessão e a bater na marca histórica dos 100 dólares. Baixou pouco depois para os 99,17 dólares. Em Londres, o Brent do Mar do Norte, também com entrega para Fevereiro, subiu igualmente mais de três dólares e passou pela primeira vez o patamar dos 97 dólares. O novo máximo histórico ficou em 97,74 dólares. A onda de violência na Nigéria e a instabilidade no Paquistão são apontadas como o curto-circuito que faltava ao conjunto de pressões acumuladas sobre os preços do crude nos últimos anos. Umas são estruturais: dificuldade da oferta responder a uma crescente procura, com dois países a liderarem a pressão consumista (China, que já é o segundo maior consumidor do mundo, e a Índia); escassez do sistema de refinação aliada à resistência do cartel dos países exportadores, a OPEP, em aumentar significativamente a sua produção. Outras são conjunturais: temperaturas frias do pico do Inverno ; e a descida das reservas dos EUA, o maior mercado consumidor do mundo. Outras são técnicas e com impacto que promete durar: depreciações do dólar face ao euro, quando esta matéria-prima é cotada na moeda norte-americana e as reservas dos países produtores também são em dólares, ao mesmo tempo que reforça o poder de compra dos investidores munidos de outras divisas. "Vamos aqui ficar [no patamar dos 100 dólares ], enquanto houver um desequilíbrio entre a oferta e a procura", afirmou à France Presse o analista do mercado de capitais da BMO, Bart Melek. Para este desequilíbrio contribui agora a nova vaga de violência da Nigéria, país que nos últimos anos já perdeu 25 por cento da sua produção, sendo o primeiro produtor africano, oitavo mundial e quinto fornecedor dos EUA. Para os analistas, o risco de ruptura de fornecimento neste país, com a morte de 12 pessoas na passagem de ano, é agora superior ao que foi nos últimos meses. E contribui também a situação geopolítica no Paquistão, uma semana depois do assassinado de Benazir Bhuto - não sendo um produtor importante, situa-se numa região estratégica para a produção de petróleo. A situação destes dois países "provocou o regresso de muito capital especulativo ao mercado", segundo o presidente da Ritterbusch & Associates, Jim Ritterbusch, citado pela Reuters. Mas estes não são os únicos dois países em turbulência geopolítica. É também o Quénia, "ao lado da Nigéria, que se incendeia", diz Moncef Kaabi, da Natixis, é também a Turquia, com as operações contra os separatistas curdos no Norte, justificando que mercados como o do petróleo "traduzem a inquietação e a incerteza dos investidores". Por outro lado, os EUA deverão anunciar ainda hoje a situação dos seus stocks de crude, mas os dados disponíveis antecipam o anúncio de uma nova quebra, pela sétima semana consecutiva, desta vez em 1,8 milhões de barris, face ao aumento da actividade das refinarias, de acordo com um inquérito da Reuters. O preço actual do petróleo ficou agora mais próximo do pico de 100 dólares de 1980 provocado pela guerra entre o Irão e o Iraque, dois países-membros da OPEP. O preço de então ajustado à inflação representa hoje 101,7 dólares. A convicção dominante no mercado, a avaliar pelos analistas contactados pela Reuters, é a de que o preço desta matéria-prima continuará provavelmente a subir nos próximos cinco anos, a não ser que o crescimento económico abrande e abrande também a procura de combustível. A pressão para a subida de preços que se verifica desde 2002 continua a ter condições para manter o ritmo: algumas regiões fora da OPEP, nomeadamente o mar do Norte, têm a sua produção em declínio, a China mantém um intenso ritmo de procura de combustível e o sistema de refinação continua a enfrentar uma escassez de capacidade para os produtos de grande qualidade. Para analistas como Kris Voorspools, da Fortis, em Bruxelas, o "preço do petróleo pode continuar a subir", por se estar perante o "simples fundamento da oferta e da procura". Mas há quem defenda, embora em minoria, que os preços elevados podem levar a uma recessão global, uma opinião expressa por Nauman Barakat, vice-presidente da Macquarie Futures dos EUA.