Fatores Demográficos e Econômicos Subjacentes A revolta histórica produz normalmente uma nova forma de pensamento quanto à forma de organização da sociedade. Assim foi com a Reforma Protestante. No seguimento do colapso de instituições monásticas e do escolasticismo nos finais da Idade Média na Europa, acentuado pela " Cativeiro Babilónica da igreja " no papado de Avignon, o Grande Cisma e o fracasso da conciliação, assistimos no século XVI ao fermentar de um enorme debate sobre a reforma da religião e dos posteriores valores religiosos fundamentais. Este debate passou completamente ao lado de Portugal, demasiado distante do foco onde surgiram estes pensamentos. A imprensa, inventada na Alemanha por John Gutenberg, foi importante na divulgação destas ideias. As 95 Teses de Martinho Lutero foram imediatamente impressas e divulgadas por todas as regiões de língua alemã, o que contribuiu para a crescente popularidade de Martinho Lutero. Não menos relevante foi a influência da pressão social exercida pela Contra-Reforma, na qual os Jesuítas tiveram um papel de liderança. A Inquisição e a censura exercida pela Igreja Católica foram igualmente determinantes para evitar que as ideias reformadoras encontrassem divulgação em Portugal, Espanha ou Itália, países católicos. Historiadores assumem geralmente que a incapacidade de reformar (grande número de interesses legítimos, falta de coordenação na coligação dos reformadores) poderia levar a uma grande revolta ou revolução, uma vez que o sistema deverá ser gradualmente ajustado ou então desintegrar-se. O fracasso da conciliação levou à Reforma Protestante do ocidente europeu. Estes movimentos reformistas frustrados variam desde o nominalismo, a moderna devoção, ao humanismo, e ocorrem em conjunção com o crescente desagrado perante a riqueza e o poder da elite clerical, sensibilizando a população para a corrupção moral e financeira da Igreja. A Reforma Religiosa e Política na Inglaterra Henrique VIII O curso da Reforma foi diferente na Inglaterra. Tinha havido desde há muito uma forte corrente anti-clerical, tendo a Inglaterra já tido o movimento Lollard, que inspirou os Hussitas na Boémia. Mas em cerca de 1520, no entanto, os Lollards não eram já uma força activa, ou pelo menos um movimento de massas. O carácter diferente da Reforma Inglesa deve-se ao facto de ter sido promovida inicialmente pelas necessidades políticas de Henrique VIII. Sendo este casado com Catarina de Aragão e estando apaixonado por Ana Bolena, Henrique solicita ao Papa Clemente VII a anulação do casamento. Perante a recusa do Papado, Henrique faz-se proclamar, em 1531, protector da Igreja inglesa. O " Ato de Supremacia ", votado no Parlamento em Novembro de 1534, colocou Henrique e os seus sucessores na liderança da Igreja: os súbditos deveriam submeter-se ou então seriam excomungados e perseguidos. Apesar de uma certa deriva em direcção ao luteranismo, Henrique reafirma a ortodoxia católica através da " Confissão dos Seis Artigos " (1539). Entre 1540 e 1553, sob Thomas Cromwell, a política conhecida como a dissolução dos mosteiros foi posta em prática. A veneração de santos, locais de peregrinação foram atacados. Enormes extensões de terras e propriedades da Igreja passaram para as mãos da coroa e posteriormente da nobreza e das classes altas. Os direitos adquiridos foram uma força poderosa de apoio às dissoluções. Houve muitos opositores da Reforma de Henrique, tais como Thomas More e o Bispo John Fischer, que foram executados pela sua oposição. Mas também existiu um partido crescente de Protestantes genuínos que estavam inspirados pelas doutrinas então correntes no continente. Quando Henrique foi sucedido pelo seu filho Eduardo VI em 1547, os protestantes viram-se em ascendente no governo. Uma reforma mais radical foi imposta, com a destruição de imagens e o fecho de capelas, para além de ter sido revogada a " Confissão dos Seis Artigos ". Em 1552, é redigido o novo " Livro de Orações " e promulgada a " Confissão de Fé em Quarenta e Dois Artigos ", que aproximava doutrinalmente a Igreja de Inglaterra do calvinismo. Seguiu-se uma breve reacção católica durante o reinado de Maria I (1553-1558). De início moderada na sua política religiosa, Maria procura a reconciliação com Roma, consagrada em 1554, quando o Parlamento vota o regresso à obediência papal. Porém, as perseguições violentas que move aos não católicos e o seu casamento com Filipe II de Espanha | Filipe II de Espanha, provocam um forte descontentamento na população. Um consenso começou a surgir durante o reinado de Isabel I. Em 1559, Isabel retorna à religião do pai, com o restabelecimento do " Ato de Supremacia " e do " Livro de Orações " de Eduardo VI. Através da " Confissão dos Trinta e Nove Artigos " (1563), Isabel alcança um compromisso entre o protestantismo e o catolicismo: embora o dogma se aproxime do calvinismo, só admitindo como sacramento o baptismo e a eucaristia, é mantida a hierarquia episcopal e o fausto das cerimónias religiosas. O sucesso da Contra-Reforma no continente e o crescimento de um partido puritano dedicado a estender a Reforma Protestante polarizou a era Elizabetana, apesar da Inglaterra não ter tido até 1640 lutas religiosas comparáveis às dos seus vizinhos. Na verdade a Reforma na Inglaterra procurou preservar o máximo da Tradição Católica (episcopado, liturgia e sacramentos). A Igreja da Inglaterra sempre se viu como a "eclesia anglicanae", ou seja, "A Igreja cristã na Inglaterra " e não derivação da Igreja de Roma ou do movimento reformista do século XVI. Como consequência disso sempre existiu dois grandes "partidos" ou "facções": a Igreja Alta (High Church) e Igreja Baixa (Low Church), que refletem a controvérsia histórica sobre as formas de culto e de expressão. A Reforma Anglicana buscou ser a "via média" entre os extremos romanos e puritanos. Assim aceitam os dois sacramentos do Evangelho: o Santo Batismo, através do qual a pessoa é feita membro da Igreja de Cristo, sendo que tal graça é complementada na Confirmação, e na Santa Comunhão, que une o cristão ao sacrifício de Cristo Jesus que os alimenta com seu corpo e sangue. Para os anglicanos estes dois sacramentos foram instituídos pelo próprio Senhor Jesus Cristo. Os demais ritos sacramentais da Igreja também são aceitos, apesar de não terem sido instituídos por Cristo, mas são reconhecidos por serem, em parte, estados de vida aprovados nas Escrituras: a Confirmação, Penitência, Ordens, Matrimônio e a Unção dos enfermos. Embora tenham se afastado de muitas das prática devocionais medievais com relação aos santos e a Virgem Maria mantiveram um calendário específico para sua comemoração na Igreja, em especial as antigas festas marianas diretamente associadas aos méritos de seu Filho Jesus Cristo (Anunciação, Natividade etc).